segunda-feira, agosto 09, 2010

Sobre o tempo

Naquele dia ela não estava para bons amigos. Olhou em volta, viu seu mundo desmoronando, sequer pensou na hipótese de ficar e juntar os pedaços, simplesmente bateu a porta as suas costas e partiu. No caminho, foi pensando o que poderiam dizer, o que estariam pensando, o que estariam argumentando sobre sua atitude, tão avessa ao que estavam acostumados. Sorriu ao pensar que algumas pessoas a estava defendendo, tentando acalmar os demais, explicando que ela estava com alguns problemas, mas que logo-logo estaria de volta - "Nunca mais" - disse a si mesma - "nunca mais..."
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Lembrou de como desafiara a todos os seus inimigos no dia anterior, olhou-o nos olhos, não respirou, não moveu um músculo, apenas os fitou de cima a baixo, sorriu e se foi. Não era preciso dizer nada, todos eles entenderam. Ela não é mais a mesma. Havia vencido.
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Seguiu andando sem olhar para trás. Quanto mais andava, mais livre se sentia. E o que mais estaria ela sentindo, felicidade? Não, não era para tanto. Mas estava livre, sentia-se limpa como há muito não acontecia. Pelo caminho encontrou algumas flores, muitas delas com espinhos. Depois de tudo que passara? Os espinhos, aquelas flores, nada a abalava, nada a desconcentrava.
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Exausta, sentou-se. Cruzou as pernas, olhou em volta. Qual foi a última vez que vira um céu tão esplendidamente azul? Não se lembrava. Respirou. Seus pulmões se encheram do mais puro ar que já havia respirado. Fechou os olhos e sentiu uma brisa refrescando todo o seu corpo. Deitou-se. O sol queimava o seu rosto, mas ela não se incomodava, estava re-carregando suas energias.
Seu momento de reconciliação com esse mundo foi interrompido suavemente, abriu os olhos, apoiou a careça sobre uma das mãos que a essa altura tocavam o chão, os braços abertos e ficou a admirar uma borboleta que pousava lenta e delicadamente em seu rosto.
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Sorriu. Seu sorriso não era como o de ontem, era alegre e sincero. Ofereceu a mão a sua nova amiga, ela aceitou. Virou-se, admirou-a mais um pouco. A borboleta se foi. Borboleteando sobre as flores no jardim, ou voando a céu aberto. Ela se foi, seguiu sua nova amiga, esqueceu-se de tudo.
Vida nova.
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2 comentários:

  1. Dani, foi você quem criou o texto?
    Lindo, lindo, simplesmente lindo!
    Maravilhoso!
    E diz alguma coisa esta "vida nova" ou faz apenas parte deste texto?
    Beijos, boa tarde, Mauro

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  2. muito bonito
    eu posso estar enganado, mas me pareceu auto biografico.
    se for meus parabens é bom quando descobrimos que depois de um dia ruim vem a vida nova

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